8 de dezembro de 2016

Obstáculos que impedem Deus de ouvir e atender algumas orações






Sermão ministrado na Igreja Cristã Despertar da Graça em 07/12/16

Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniquidade; porque o SENHOR já ouviu a voz do meu lamento. O SENHOR já ouviu a minha súplica; o SENHOR aceitará a minha oração. (Salmo 6.8,9)

Não há dúvidas de que, Cristo dedicou uma grande parte do seu ministério para ensinar os seus seguidores sobre a maneira correta e cristã de se viver a vida. Usando um termo mais aceito teologicamente, a “Espiritualidade Cristã” sempre esteve presente nos ensinos de nosso amado, sublime e inigualável mestre. Quando lançamos um olhar mais detalhista, por exemplo, para o esplêndido “Sermão do Monte”, constatamos que Cristo destacou intrinsecamente a importância da pureza genuína nos atos religiosos. Essa pureza, certamente vai de encontro com pelo menos dois clichês bastante popularizados em nosso meio: 1) Os fins justificam os meios; ou que, 2) Para Deus o que vale é a intenção. Acredito que, muitos já ouviram coisas do tipo: - não importa como eu fiz; o que interessa é o que foi feito.
À luz das Escrituras comprovaremos que para Deus nem sempre os fins justificam os meios, e que, a intenção nem sempre é o seu parâmetro avaliativo. Práticas religiosas como: caridades, jejuns e orações são terão valia se forem feitas vernaculamente (com sinceridade), entrementes, o que importa para Deus não é a caridade, mas como ela foi executada. O importante não é o jejum, mas sim como se jejuou; também não é propriamente a oração, mas como se orou.
Há alguns meses atrás, quando iniciei a série de estudos sobre o “Pai Nosso”, afirmei que há apenas duas maneiras de se orar: a certa e a errada. Hoje, usando o mesmo raciocínio, afirmo que há também apenas duas maneiras de praticar caridades, devoções e jejuns: a certa e a errada. Jesus, por exemplo, reprovou em seu ensino as esmolas doadas com a intenção da obtenção da glória humana; e igualmente condenou o jejum feito com a finalidade de se obter o louvor humano. Em suma, caridades, orações e jejuns feitos com o propósito de ganhar os holofotes humanos, além de serem censurados, não são aceitos por Deus. Lembre-se da sentença: “Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu”. (Mateus 6.2 – NTLH)
Confesso que, exigente é uma das coisas que não tenho dúvidas de que Deus é! Desde o Éden, quando aceitou a oferta de Abel, mas reprovou a de Caim, comprova-se que o Eterno não aceita qualquer coisa, ou que, para Ele, nem sempre “os fins justificam os meios”. Quando leio a censura feita por Deus através do profeta Amós, fico atordoado e temeroso, pois aprendo ainda mais que Ele rejeita e reprova muitos atos religiosos.

Não suporto os encontros religiosos de vocês.
Estou cheio dos seus congressos e convenções.
Não me interessam seus projetos religiosos.
Seus lemas e alvos presunçosos.
Estou enojado das suas estratégias para levantar fundos,
das suas táticas de relações públicas e criação da própria imagem.
Não suporto mais sua barulhenta música de culto ao ego.
Quando foi a última vez que vocês cantaram para mim?
Alguém ai sabe o que eu quero?
Eu quero justiça – um mar de justiça.
Eu quero integridade – rios de integridade.
É isso que eu quero. Isso é tudo que eu quero.
(Amós 5.21-24 – Bíblia A Mensagem)

            No livro do profeta Isaias também se lê uma dura censura feita por Deus, e que demonstra que Ele não aceita qualquer coisa: Que me importam os vossos inúmeros sacrifícios? Para que me trazeis tantos holocaustos? Eis que estou farto de sacrifícios queimados de carneiros e da gordura de novilhos cevados. Ora, não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, cordeiros e bodes!…”. (Isaías 1.11)
 Precisamos sempre ter em mente que, à luz da Escritura Sagrada, está patente que Deus rejeita certas obras de caridade, jejuns, sacrifícios e cultos, portanto, inequivocamente, pode-se afirmar que, algumas orações também são rejeitadas por Deus, ao contrário do que está registrado na letra de uma famosa música pentecostal brasileira que diz: “Deus não rejeita oração”. Sei que estou sendo prolixo para alguns que me acompanham já há certo tempo, entretanto, mesmo consciente da minha grande redundância neste ponto, preciso parafrasear o apóstolo Paulo e dizer que, durante anos, não cesso, noite e dia, de admoestar, com temor, a cada um de vós, e dizer: Sim. Não tenham dúvidas, Deus rejeita alguns tipos de orações! Portanto, nossa proposta hoje, com este sermão é numerar e expor, mesmo que, sucintamente, algumas orações que Deus não ouve, e algumas que Deus não responde.

1.    Pecado não confessado – “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”. (Isaias 59.2)
Biblicamente falando, a falta de confissão de pecados é um dos maiores obstáculos para as nossas orações, pois, como já abordado no ensino da oração do “Pai Nosso”, muitos intérpretes dos textos bíblicos acreditam e afirmam que a santidade é o maior dos atributos de Deus. E sendo Deus santo, os pecados não confessados acabam levantando barreiras de separação entre aquele que ora e Ele. No contexto de Isaias, sabe-se que o povo de Israel afundou-se em apostasia e em outras práticas de iniquidades; e a não confissão, além de ofender a Deus, o “impediu” de ignorar, relevar ou tolerar tais modos de proceder. Em suma, tais atos, somados com a falta de confissão, “tornou” Deus surdo para com os seus apelos e suas orações.
Sei que alguém pode questionar: - mas, isso aconteceu com o povo de Israel! É verdade, aconteceu com eles, mas serve de alerta para nós! Lembre-se do que o sábio disse no livro de provérbios: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”. (28.13)
No salmo 66, o salmista compreendeu perfeitamente que a falta de confissão criaria uma barreira de separação que “taparia” os ouvidos de Deus: “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá”. (v.18) – Em um dos salmos que é atribuído a Davi, ele confessa e pede perdão até mesmo pelos pecados ocultos: “Expurga-me tu dos que me são ocultos”. (Salmo 19.12)
Em Isaias 1.15 lemos: “Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”.

Curiosidade contextual: Sabe-se que, algumas orações no passado, consistiam apenas no gesto de levantar os braços com as palmas das mãos voltadas para cima e com os olhos abertos e fixados para o céu. Pela censura feita por Deus aqui no livro de Isaias, entendemos que essa prática era muito habitual naqueles dias, entretanto, essas orações eram desprezadas e não ouvidas por Deus, pois eles estavam atolados em pecados e não havia confissão.
            Ao orarmos, nunca devemos nos esquecer de uma das petições ensinadas por Cristo na oração do “Pai Nosso”: perdoa-nos os nossos pecados”. (Lucas 1.4)

2.    Falta de conceder perdão – “E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas”. (Marcos 11.25)
Conforme ensinei num sermão passado, o nosso relacionado na vertical, dependerá do nosso relacionamento na horizontal, ou seja, o nosso relacionamento com Deus, dependerá do nosso relacionamento com o próximo. Aquele que não consegue liberar perdão faz com que a sua oração seja rejeitada por Deus. Lembre-se da parábola do credor incompassivo!

3.    Pedidos fomentados por ganância – “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites”. (Tiago 4.3)
Na oração do “Pai Nosso”, Jesus nos ensinou a pedir pelo “pão cotidiano”, ou seja, devemos pedir a Deus apenas aquilo que servirá para nosso proveito, ou aquilo que corresponde às nossas necessidades. Quem ora fomentado pela ganância, agem nesciamente, pois, esquece de que há outra dimensão além da terrena. Já ensinei que não há nada de errado em orar pelas necessidades diárias, entretanto, quando os pedidos são egoístas e estimulados pela ganância, Deus não se dá ao trabalho de respondê-los, pois, Ele sabe que o que está em pauta é a busca pelo prazer, conforto e poder. Certa vez, li uma frase que resume perfeitamente o mal mencionado por Tiago: “A oração feita com espírito ganancioso é como a de um bandido, que pede sucesso para os seus assaltos”. Essas orações não são ouvidas, pois, são fomentadas por ganância, egoísmo e pela busca desenfreada dos deleites mundanos.
Permita-me apenas enumerar algumas tendências erradas provocadas pela ganância:
         
a)    Valorização do temporário em detrimento do eterno (Colossenses 3.1-3)    
b)    A cobiça dos olhos, através da ostentação de bens, que alimenta a soberba da vida (I João 2.16);   
c)    O desejo desenfreado de ter sem pre mais, ao ponto de perder a própria vida (Mateus 16.26; Lucas. 9.25). 

4.    Falta de compaixão pelos necessitados “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido”. (Provérbios 21.13)
Já disse e ratifiquei que o nosso relacionado na vertical, dependerá do nosso relacionamento na horizontal. Jesus, ao ser interrogado sobre qual seria o maior mandamento, contrapôs: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.  Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22.37-39) Entretanto, um pouco mais adiante, Cristo, em relação ao segundo mandamento, estabeleceu um novo parâmetro: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós...”. (João 13.34).
            Infelizmente, muitos leitores despercebidos, não percebem que há uma grande diferença entre: “Amar o próximo como a mim mesmo”, e, “Amar o próximo como Cristo me amou”. Não há dúvidas de que este mandamento ficou mais pesado! E, indo um pouco mais longe, se temos o conselho paulino de sermos imitadores de Cristo, precisamos ter compaixão pelo próximo, pois, os Evangelhos registram que a compaixão de Jesus pelo sofrimento alheio ia muito além do mero sentimento. Ele se dedicava ao ministério de aliviar os outros de suas dores. Nunca devemos nos esquecer de que a compaixão pelo outrem, foi umas das características marcantes do ministério de Jesus.
            Quem não tem compaixão pelos necessitados, faz com que as suas orações não sejam ouvidas por Deus. O apóstolo Tiago afirmou: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e o não faz comete pecado”. (4.17) E, o pecado, como está escrito: “faz separação entre nós e Deus”.
           
5.    Falta de entendimento no relacionamento conjugal – “Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações”. (1 Pedro 3.7)
À luz das Escrituras, a verdadeira espiritualidade começa e deve ser demonstrada dentro de casa. Se um homem não governa bem a própria casa, como está escrito: ele é pior do que um infiel (1 Timóteo 5.8), e, agora o texto de Pedro vai além, afirmando que, até mesmo as orações podem ser impedidas quando um homem porta de maneira errada para com a sua esposa. O mesmo vale para as mulheres, pois, o principio de Deus vale para todos, entrementes, quando uma mulher se porta desonestamente para com seu marido, suas orações também são rejeitadas por Deus.

6.    Pedir contra a vontade de Deus – “E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte e disse: Já basta, ó SENHOR; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais”. (1 Reis 19.4)
A nossa fragilidade e incapacidade de controlar a nossa própria vida, às vezes nos faz falar com tolices nas horas de apreensão, perseguição e sofrimentos. Quantos, a exemplo de Elias já não exclamou: chega! Leva-me! Tira a minha vida! Basta! Etc. Quando estamos pressionados e de cabeça quente, temos o triste hábito de abrir a boca ocasionalmente e falar besteiras. Graças a Deus, ele não nos trata segundo as nossas transgressões!


7.    Negligência e descaso para com a Lei - O que desvia o ouvido para não ouvir a Lei, até mesmo sua oração se torna abominável. (Provérbios 28.9)
A graça está na Lei, e a Lei está na graça. Equivoca-se quem pensa e diz que toda a Lei caducou e que o Antigo Testamento não tem mais valor. A Lei nos revela exatamente o que nós somos diante de um Deus santo.

Gálatas 3.19 - Então, por que é que foi dada a lei? Ela foi dada para mostrar as coisas que são contra a vontade de Deus. 

Romanos 4.5 Porque a Lei produz a ira; mas onde não há Lei também não pode haver transgressão. 

Romanos 7.7 - Mas foi a lei que me fez saber o que é pecado. Pois eu não saberia o que é a cobiça se a lei não tivesse dito: “Não cobice.” (NTLH) 

9 de novembro de 2016

Pequena biografia


Sylas de Souza Neves (Belo Horizonte, 11 de dezembro de 1981). É o primogênito de um casal humilde oriundo do Vale do Aço de Minas Gerais. É pai de Yuri Abner e Lara Hadassa. Em 2004, graduou-se em Engenharia de Agrimensura pela Faculdade de Engenharia de Minas Gerais (FEAMIG); e em 2012, graduou-se Teologia pela Faculdade Teólogica Karpos (FATEK). Entretanto, seu primeiro contato propriamente dito com a teologia foi em 2003, quando fez um curso extensivo de Teologia na antiga FATE / BH. 


De 2001 à 2003, desenvolveu várias funções nas Assembleias de Deus, a saber: secretário, coordenador local e regional de missões, professor e superintende da Escola Bíblica Dominical, além de desenvolver o trabalho de pregação itinerante interdenominacional.

No início de 2004, mudou-se com a família para a Igreja Batista Gileade (bairro Ipê - BH), onde foi separado ao diaconato em 31/12/2004 e presidiu a Agência Missionária até o final de 2006. Lá, organizou simpósios, congressos, dois acampamentos missionários e, continuou com o ministério de pregação itinerante interdenominacional.

Em 2007, retornou para as Assembleias de Deus, onde foi ordenado ao presbitério e posteriormente ao pastorado e pastoreou duas congregações, a saber: (AD Missão do Campo Alegre - 2007) e (AD Madureira do Primeiro de Maio - 2008).

Em 2008, após acordo com a liderança regional, mudou-se para a Assembleia de Deus do bairro São Bernardo, também em Belo Horizonte, onde permaneceu até 31 de outubro de 2015 dando suporte na área do Ensino e Pregação da Palavra de Deus. Em 2009, fundou o Instituto Bíblico Teológico Ministerial (IBTM) e lecionou duas matérias: Angelologia e Pneumatologia.

Em 05 de novembro de 2015, direcionado por Deus fundou e começou a pastorear a Igreja Cristã Despertar da Graça no bairro Providência em Belo Horizonte. Uma igreja que tenta conciliar a teologia reformada com o fervor espiritual.


INFÂNCIA, DIFICULDADES, PRECONCEITOS E TESTEMUNHO

Por causa de negligência médica, passou da hora de nascer, acabou ingerindo líquido amniótico, placenta, etc. Foi retirado da barriga da mãe pelo método chamado fórceps. Teve paralisia cerebral pós-parto e foi desenganado pelos médicos. Contrariando os prognósticos sobreviveu e mesmo encarando inúmeros preconceitos e 17 longos anos de tratamento, dentre eles: fisioterapia, fonoaudiologia e psicomotricidade, têm sido um pregador incansável do Evangelho ministrando em trabalhos evangelísticos, congressos, cruzadas, concentrações e encontro de casais em vários estados do Brasil e centenas de cidades.


FORMAÇÃO TEOLÓGICA E MINISTERIAL

* 2003 - Curso extensivo de Introdução a Teologia na Antiga Fate - BH
* 2004 - Curso Médio em Teologia pelo IBTG 
* 2005 - Curso de Conhecimento Bíblico pelo CET (Centro de Estudos Teológicos)
* 2009 - Curso de Missiologia pela EMAD (Escola de Missões das Assembleias de Deus)
* 2012 - Graduação em Bacharel em Teologia pela FATEK


LIVROS

1- Memórias Póstumas dos Protestantes - 2010
2 - Contos de pescador ou Contos de pregador? - 2011
3 - Sexo no Casamento - 2013
4 - Confissões de um Protestante - 2014
5 - Aprendendo a orar com Jesus - 2017
6 - Aprendendo com as parábolas de Jesus - 2019

31 de outubro de 2016

A história que precisa ser contada


Obs. Sermão ministrado aludindo os 499 anos da Reforma Protestante
30/10/2016
Atos 2.41; 4.4; 17.1-6

            Através do relato minucioso e fidedigno de Lucas, somos informados do crescimento repentino e extraordinário da igreja de Cristo.  No dia de Pentecostes 3.000 almas foram agregadas. Pouco tempo depois, aproximadamente mais 5.000 foram alcançadas pela graça. Na verdade, em pouco tempo, o cristianismo saiu de Jerusalém, entrou em Antioquia e chegou a todos os lugares do Império Romano. Em menos de 40 anos, mesmo nascendo em berço humilde e sendo composta na maioria por pessoas simples, não afortunadas economicamente, sem influências politicas e muito menos meios modernos de comunicação, a igreja cristã alvoroçou o mundo.
            Devido ao crescimento subido, várias acusações, perseguições, ameaças e martírios surgiram, entretanto, como vaticinado pelo próprio cabeça da igreja (Jesus – Efésios 5.23), as portas do inferno não prevaleceram contra ela (Mateus 16.18). Hoje, a Igreja de Cristo continua avançando e alvoroçando o mundo.
            A Igreja sobreviveu aos ataques de homens inescrupulosos como Nero, Domiciniano, Trajano, Sétimo Severo e Dioclesiano, dentre outros. Todavia, em 313 d.C, quando o imperador pagão Constantino decretou o cristianismo como religião oficial e fez a união da igreja com o Estado, a igreja começou a sair do trilho fornecido pelo Senhor e percorrido pelos apóstolos e pela igreja primitiva e perseguida dos três primeiros séculos.
            A união Igreja / Estado levou os homens a buscarem apenas os seus interesses, ou seja, a hegemonia do poder. E foi nesse terrível cenário, que em 607, o imperador Focas decretou o bispo de Roma como o bispo universal, dando inicio assim a instituição do papado. A partir dai, a igreja começou a desviar-se das Escrituras Sagradas e perder a sua pureza doutrinária.
            Hoje, ao celebrarmos e agradecermos a Deus, pelos 499 anos da Reforma Protestante, precisamos relembrar os desvios doutrinários que levaram homens como Wycliff, Huss, Lutero e Calvino a promoverem o movimento religioso mais organizado contra a Igreja Católica.

Eis os principais desvios doutrinários:

- Ano 304 d.C. - Os Bispos [de Roma] se auto intitulam e passam a ser chamados de papa.
- Ano 310 d.C. - Inicia-se na Igreja Católica a reza pelos mortos.
- Ano 320 d.C. - As Igrejas Católicas, começam a utilizar velas.
- Ano 325 d.C. - Constantino, inaugura e celebra o 1º concílio papal.
- Ano 381 d.C. - A Igreja Cristã , passa a se denominar "Católica" ("Universal").
- Ano 394 d.C. - O culto cristão é abolido e passam a rezar as missas.
- Ano 416 d.C. - Começam a batizar as crianças recém nascidas.
- Ano 431 d.C. - Passam a cultuar Maria, mãe de Jesus.
- Ano 503 d.C. - Começam a divulgar a existência do purgatório.
- Ano 787 d.C. - Começam com o culto às imagens.
- Ano 830 d.C. - A Igreja Católica passa a usar ramos e água benta.
- Ano 869 d.C. – Divisão da Igreja. A Igreja Ortodoxa, separou-se de Roma recusando a submissão ao Papa e dizendo que a infalibilidade papal (Nota. Infalível, ou seja o papa é dotado do poder de não errar nas questões pertinentes à fé e aos costumes de Deus quando pretende conferir uma decisão universal), é a blasfêmia que coroou o Papado.
- Ano 933 d.C. - Instituíram a canonização dos "santos".
- Ano 1184 d.C. - Iniciou-se a inquisição.
- Ano 1190 d.C. - Instituiu-se a venda de indulgência, ou seja pagar pelo pecado; "venda da salvação"
- Ano 1200 d.C. - A hóstia passou a substituir a ceia.
- Ano 1215 d.C. - Decretaram a transubstanciação, ou seja presença real de Cristo na eucaristia pela mudança na substancia do pão e do vinho, na do corpo e sangue de Jesus.

O inicio propriamente dito da Reforma, aconteceu no século XVI, a quase 500 anos atrás na Alemanha, cidade natal do monge agostiniano Martinho Lutero.

Muitos foram os legados que os Reformadores nos presentearam. Entretanto, quero apenas sintetiza-los aqui.

a)   Sola Scriptura (Tradições, sonhos, visões, experiências, éditos, etc., não possuem a mesma autoridade das Escrituras).

b)   Sola Fide (Combate ao sinergismo FÉ + OBRAS para a salvação)

c)   Sola Gratia (Somente somos salvos pela Graça – Ênfase no ensino da depravação humana)

d)   Solus Chirstus (rejeição de outros mediadores – “Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” – 1 Tm 2.5).


e)   Soli Deo Glória (A salvação é obra de Deus, planejada por Deus, realizada por Deus, aplicada por Deus e consumada por Deus, portanto, glórias sejam dadas somente a Deus).

10 de outubro de 2016

Junto e misturado ou santo e separado?

Texto Extraído do meu livro: CONFISSÕES DE UM PROTESTANTE


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Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente?[i]

No último dia do ano de 2011, após receber uma noticia rotulado de uma “grande benção”; peguei o controle da televisão e sintonizei na Rede Globo para presenciar a primeira aparição de “evangélicos” no programa Caldeirão do Hulk, apresentado pelo apresentador Luciano Hulk.

Apreensivo, temendo por novas “derrapadas” da turminha “gospel” pós-moderna, confesso que fiquei boquiaberto ao ouvir o nobre apresentador, que diz ser judeu, proferir a seguinte frase: “Desta vez, temos o sagrado e o profano, a babel das religiões, passando pelo funk carioca, o axé da Bahia e as atrações evangélicas[ii]".

Se isto já não fosse o bastante, após “berrar” o nome da cantora e pastora Ana Paula Valadão e divulgar a grande tiragem de cópias vendida por ela, Luciano Hulk continuou a proferir seus absurdos:

"Eu queria dizer que o Caldeirão é palco pra todas as crenças, credos, cores, ritmos.. Isso aí é uma mistura de religiões, mistura de ideais, quer dizer, na minha casa já é assim. Eu sou judeu, minha mulher é católica, minha sogra é evangélica, então é uma mistureba já em casa.."

Neste momento, minha angustia dobrou, pois, diante disso, a nobre pastora (...) respondeu:

"Acho que o legal é você refletir o que o Brasil é, tem espaço pra todo mundo. Muito obrigada!!"

Não, mil vezes não! Mais uma vez presenciei a oportunidade de “batalhar pela fé” perdida em rede nacional e o nome de Cristo negado! E o pior ainda é saber que muitos “evangélicos” aplaudiram, quando Hulk esbravejou: “O Santo e o Profano tudo junto e misturado aqui no Caldeirão!!! “Quem gostou faz barulho!!!


Entretanto, ainda restava uma esperança, pois, uma segunda atração gospel estava prestes a ser anunciada, e que “alegria” em saber que se tratava de um pregador! Pena que era o pregador Luo.


Este “pregador”, após ser introduzido na presença do apresentador, foi questionado se fazia rap gospel? E mais uma derrapada pode ser contemplada, pois, o mesmo, com um semblante franzido, respondeu[iii]: - Teoricamente, sim. 


Mais lamentável ainda, foi assistir o rapper tirando uma fã (de canga) para dançar abraçadinhos, no palco da atração e cantar “Som do Verão”, uma música que não fala nada de Cristo e nem menciona a verdade que liberta.


No final do programa, o pior ainda estava por vir, pois, o “judeu” não convertido, cercado de 'coleguinhas' (seminuas), como Huck chama suas assistentes; foi até ao mar fazer suas oferendas à iemanjá, dizendo:

- Vamos lá! Este programa está bem louco. Um apresentador judeu, música evangélica, cheio de gente..., ou seja, mulçumano, enfim, têm de tudo neste programa. Então, como não poderia faltar nesta torre de babel das religiões, a nossa oferenda a iemanjá, que eu gosto tanto...

Mudando de programa, mas, não de aberrações, vocifero que foi também deprimente, assistir no ESQUENTA, também da Rede Globo, a participação de uma “pastora pentecostal”, cantando e falando em línguas estranhas, enquanto a apresentadora Regina Casé, e inúmeras mães de santo, dançavam ao som de uma música que dizia: “deixa de ser invejoso, que a vitória chega! Deixa de ser invejoso, que a vitória chega! Diabo sujo...”.


Essa “pastora”, ainda teve o disparate de zombar dos sermões, dizendo: “O Aristides tinha essas peças guardadas em casa (tantam e repique) e eu disse, vamos colocar para gemer na igreja... em vez de você tá dormindo, babando, só escutando sermões, sermões, vamos colocar o povo para levantar da cadeira e saltar do chão[iv]...”.


Para falar a verdade, ao assistir o vídeo posteriormente no youtube, tive a mesma sensação do meu xará Silas Figueira, que sabiamente e acertadamente sintetizou: “A macumba gospel comeu solto nesse programa. Os espíritas que estavam ali não notaram nenhuma diferença do que ocorre em seus terreiros. Foi um verdadeiro sincretismo religioso[v]”.


É por essas e outras, que não duvido que, a intenção do cantor Latino, revelada, há alguns anos atrás, no programa “Domingo Legal” do SBT, em gravar um cd intitulado: “Junto e misturado” com alguns cantores gospel, seja realizado[vi].


Aliás, hoje já virou rotina os cantores seculares fazerem “participação especial” e cantarem juntos e misturados com os artistas “evangélicos” e vice-versa.


Infelizmente, a moda pegou e duvido muito que vai mudar, afinal de contas, o sonho da maioria dos cantores gospel é migrar para agravadora Global e fazerem aparições nos programas televisivos para alavancarem ainda mais a carreira!


Pois bem... Sei que muitos pensam e rotula tal abertura da mídia de uma “benção”, entretanto, tal coisa não passa de engodo e enganação. Na verdade, essa associação não passa de sincretismo religioso e de extrema desobediência para com a Palavra de Deus.


Gostaria que você deixasse de lado sua paixão e sua preferencia musical e respondesse com sinceridade: - quando foi que a Rede Globo abriu espaço para a genuína pregação da Palavra de Deus? Ou então: Qual “artista” gospel usou a oportunidade para propagar o verdadeiro Evangelho?


Sei que alguns me taxarão de radical, todavia, para estes quero deixar claro que Cristo foi radical. Paulo também era radical e o genuíno Evangelho é radical, portanto, não há possibilidades bíblicas para o santo se misturar com o profano. Na caminhada cristã, não se pode estar junto e misturado! Não existe comunhão entre luz e trevas.


O verdadeiro discípulo de Cristo precisa ter em mente que o profano é o caos, é uma barbárie! O santo tem um padrão e o profano tem outro. O padrão do santo é justiça, mas, o padrão do mundo é ganância! O padrão do santo é a Verdade, mas, o padrão do mundo é mentira! O padrão do santo é glória de Deus, mas, o padrão do mundo é glória do homem!


O pastor e teólogo Ed René Kwitz no tocante a esse assunto ponderou[vii]:

Um homem afastado de Deus é tão culpado de pecar, quanto um tuberculoso é culpado de tossir!... Um ser humano afastado de Deus, isto é, não regenerado, que não nasceu de novo, em quem o Espírito Santo de Deus não habita; que não está em relacionamento com Deus; que não está na luz, mas, está nas trevas. Ele tem o seu entendimento obscurecido, ele têm o seu coração endurecido, ele é ignorante quanto às leis de Deus e as promessas de Deus; ele é descrito na bíblia como homem natural, que sequer pode entender as coisas de Deus, porque as coisas de Deus se discernem espiritualmente.

E ao mencionar sobre possíveis “associações” com esse homem natural, Ed René apregoou[viii]:

Por mais bonzinho, por mais correto, por mais integro, um não cristão está sempre longe de Deus, vulnerável ao mal, ao pecado, a transgressão, sempre! Não existe quase crente! Não existe quase grávida. Existe gravida e não gravida; quase grávida não existe! Por isso, Martin Lloyd Jones disse que impor a ética cristã ao não cristão é uma blasfêmia contra o Espírito Santo, porque somente o homem que vive sob o Espírito Santo de Deus, habitado pelo Espírito Santo de Deus, pode fazer a vontade de Deus.

Portanto, nada de junto e misturados! O dever do cristão é ser Santo e Separado!       



28 de setembro de 2016

A oração como fundamento da fé cristã – (parte 1)

Série: Fundamentos da Fé Cristã

Sermão ministrado na Igreja Cristã Despertar da Graça em 28/09/2016

Mateus 6.5-13

            Antes de abordar necessariamente sobre a maneira correta de se orar ensinada por Cristo, tomo a liberdade de compartilhar alguns princípios e conceitos sobre oração:
A oração deve ser prioridade na vida de todo cristão. O apóstolo Paulo quando afirmou: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Coríntios 11.1); certamente tinha em mente também o assunto da oração, pois, ele, a exemplo de Cristo, passou incontáveis horas suplicando e dialogando com Deus.
Através do registro de Lucas, comprova-se que a oração era uma pratica habitual na vida do apóstolo da graça desde o momento de sua conversão. É bastante interessante o fato de que o Senhor, ao aparecer em visão para um discípulo chamado Ananias, emite uma ordem para que ele procurasse por Saulo (Paulo) na rua chamada Direita na casa de Judas. E dentre as dicas fornecidas por Deus, além do nome da rua e do proprietário da casa, está evidenciado e destacado a oração: “pois ele está orando” (Atos 9.11).
Em todo o livro de Atos, vemos que a oração era a norma geral de procedimento na vida de Paulo. Sem nenhuma dúvida, o apóstolo dos gentios era um homem de oração. E quando passamos a analisar as suas epístolas, comprovamos a notável importância que ele dava a esse fundamento da fé. Frases como: não cesso de dar graça por vós; incessantemente faço menção de vós; faço sempre, com alegria, súplicas por todos vós; etc. sempre foram registradas em suas magnificas cartas.
Entretanto, não somente Paulo sabia da importância da oração. Os demais apóstolos e discípulos também priorizavam a oração acima de qualquer outra coisa. Por exemplo, sabe-se que, os diáconos foram instituídos para que os apóstolos pudessem se dedicar a oração. Leia o que Lucas registrou:

E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. (Atos 6.2-4 – grifo do autor)

Já no primeiro capítulo do livro de Atos lemos que, os discípulos após a ascensão de Cristo estavam no cenáculo “perseverando unanimemente em oração e súplicas” (1.14). E, no capítulo 2, novamente a persistência na oração foi também mencionada: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (2.42). Portanto, certamente a oração ocupava um lugar de destaque no cotidiano de vida da igreja primitiva.
            É necessário registrar também que, a prática constante da oração pode também ser comprovada no período da Antiga Aliança. Homens como Abraão, Jacó, Moisés, Josué, Samuel, Neemias, Daniel, dentre outros, sabiam de fato a importância da oração. Todavia, Infelizmente, nos dias atuais, principalmente em nosso país, está evidenciado que, os cristãos; seja imperceptível ou deliberadamente, estão se esquecendo da prioridade da oração. Desastradamente, a igreja pós-moderna da nossa nação não possui a oração como marca.
Em sua obra: “De pastor a pastor”, o reverendo Hernandes Dias Lopes afirma que uma das tristes consequências é o fato de que: “temos, às vezes, gigantes do conhecimento no púlpito, mas pigmeus no lugar secreto de oração” [i]. Precisamos, urgentemente, voltar a priorizar a oração em nossas vidas e na agenda da igreja, por isso, nas páginas a seguir aprenderemos alguns pormenores da oração temo como foco não as orações de Paulo ou Daniel, mas, a oração popularmente conhecida como “Pai Nosso”, que foi ensinada no sermão do monte por Cristo, o nosso maior exemplo de vida em oração.

Oração como prática diária e constante
“Quando vocês orarem...”. (Mateus 6.5)
De acordo com a narrativa no evangelho escrito por Mateus, Jesus imediatamente após falar sobre as esmolas como parte da piedade ou da conduta na vida cristã; abre à boca e as primeiras palavras que saíram no tocante à oração foram: “Quando vocês orarem...”.
Sabe-se que, a expressão: “quando”, nesta frase usada por Cristo, é uma conjunção, por isso, poderíamos perfeitamente traduzi-la da seguinte maneira: “no momento em que” vocês orarem...; De fato, Jesus sabia que a oração era uma prática diária e constante na vida dos judeus. Pelas Escrituras, por exemplo, somos informados que, Daniel, sendo totalmente piedoso, como de costume, orava três vezes ao dia. (Daniel 6.10) – Ao nascer do sol, às três da tarde, e ao anoitecer.
Precisa-se ter em mente que Jesus não disse: “se vocês sentirem vontade de orar” ou, algo desse tipo; antes, ele disse: “Quando vocês orarem...”. Por conseguinte, a primeira lição que podemos extrair deste ensinamento de Cristo é que a oração necessariamente precisa ser algo habitual em nossa vida. A oração não pode ser opcional e nem casual. Ao usar a expressão “quando”, certamente Jesus deixou igualmente implícito que na vida cristã não pode haver preguiça e negligência a respeito da prática da oração, pois, a mesma precisa ser prioridade. Lembre-se do conselho de Paulo aos tessalonicenses: Orai constantemente. (1 Ts 5.17 - King James Atualizada)

Oração sem o misticismo de horários e locais
Kenneth Bailey afirma que, apesar da prática de se orar ao nascer do sol, às três da tarde e, finalmente, ao entardecer, ter sido bem generalizada antes da época de Jesus, “em nenhum lugar nos Evangelhos Jesus sugere horários especiais para a oração diária” [ii]. Segundo Bailey, “essa ausência é a primeira mudança a aparecer no padrão de oração recomendada por Jesus” [iii].
Ao refletir sobre essa primeira mudança no padrão da oração, lembrei-me de várias mensagens que ouvi ao longo dos anos, onde pregadores, incessantemente, enfatizaram a importância de se orar de madrugada. Acredito que, você também já deve ter ouvido coisas do tipo: “de madrugada é melhor”, “de madrugada a fila é menor”, “de madrugada Deus é mais acessível”, ou até mesmo: “de madrugada a oração é mais eficaz e Deus responde mais rápido”. Se você pertence ou é oriundo de alguma denominação pentecostal já deve também ter ouvido a música, cuja letra diz: “De madrugada o crente vai buscar poder...”. Entretanto, como disse Bailey, Jesus nunca sugeriu horários especiais para orações. Paulo também, ao ensinar as igrejas não disse: “orem de madrugada”, antes, recomendou: “Orai no Espírito em todas as circunstâncias, com toda petição e humilde insistência”. (Efésios 6.18 - King James Atualizada). Devemos orar em todo tempo.
Em 2010, ao fazer um tour pelo Mercado Árabe em Istambul, na Turquia, presenciei os comerciantes, se não me engano, às 15:00hs, largarem tudo o que estavam fazendo em se ajoelharem em “oração” na direção de Meca. Precisamos ter em mente que essa religiosidade mística foi derrubada por Cristo. Nosso mestre orava em qualquer hora e em qualquer lugar.
De maneira nenhuma quero desdenhar da oração de qualquer pessoa feita madrugada. Estou ciente de que, devido à rotina e barulhos nos quais estamos afogados durante o dia, muitos fazem a opção de orarem durante a madrugada.  Aliás, sou totalmente a favor de que se façam orações na madrugada. Todavia, não podemos conferir um poder místico a um horário, bem como a um local. Não podemos de modo algum pensar que Deus está mais acessível em determinada hora ou lugar. Deus sempre estará sensível àqueles que o buscarem de todo o coração, independentemente do horário ou do local.
No mundo de hoje, é fácil encontrar pessoas que se julgam “super crentes”, pois, oram, por exemplo, de madrugada e em montes. Já cansei de ouvir coisas do tipo: “eu pago preço nas madrugadas”, ou “eu pago preço nos montes”. Quando comecei a pastorear minha atual igreja, marquei uma vigília mensal das 22:00 às 0:00hs, e ao convidar um irmão para participar conosco das vigílias, ouvi ele contestar: - não gosto de vigílias neste horário. Gosto de orar das 0:00 às 6:00hs, pois, Deus se agrada muito mais e a oração sobe mais rápido! Parafraseando Paulo: O insensato! Quem vos fascinou com este misticismo?
Permita-me concluir esta parte dizendo que não interessa se a oração é feita no quarto, no templo ou no monte. Não importa se oramos de manha, à tarde, de noite ou durante a madrugada. O que realmente importa é nos derramarmos diante do Senhor, ou como disse o profeta Joel: Rasgarmos o nosso coração e não as nossas vestes! (Joel 2.13)

Oração sem representação teatral
E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. (Mateus 6.5 – NVI)


            Ao lermos o ensinamento de nosso Senhor sobre a oração do “Pai Nosso”, fica bastante evidente que ele deixou subentendido que existem duas maneiras de orar: uma errada e uma correta. Ambas as formas são explicadas por ele.
            A maneira errada é aquela onde a auto-adoração e a auto-adulação estão presentes. É algo alarmante e condenado por Cristo a tendência de pensar prazerosamente sobre si mesmo. Deixar o egoísmo e o exibicionismo nos acompanhar até a presença de Deus no momento da oração, é na verdade fazer com que a oração seja rejeitada. Jesus condena veementemente a tola concentração da atenção naquele que está orando, ou ouvindo a oração, ao invés de concentrar-se em Deus para quem a oração deve ser dirigida. Lembre-se da parábola do fariseu e do publicano! Jesus censurou a hipocrisia do doutor da lei que passou a idolatrar a si mesmo dizendo: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo”. (Lucas 18.11,12) – Usando uma frase de uma música popular brasileira, o fariseu estava dizendo: “Eu sou o cara!”.
            A representação teatral aqui é condenada também, pois, aquele que faz uso da mesma, anseia na verdade, ser conhecido, pelos que lhe cercam, como alguém que é dedicado à oração. Cristo censura igualmente o desejo de ser visto pelos outros, quando se está orando. É tremendamente reprovável fazer coisas para garantir que pessoas nos vejam em oração. A tendência para o exibicionismo definitivamente não pode fazer parte de nossas orações. Desculpe-me pela franqueza, mais dizer coisas do tipo: “Senhor, se eu ainda tenho crédito contigo!”, como faz um renomado pastor pentecostal no Brasil, nada mais é na verdade do que hipocrisia e busca pelo louvor humano.
Para finalizar, considere a brilhante releitura feita por Eugene Peterson, dos versículos 5, 6 e 7 do capitulo 6 de Mateus:

E, quando forem à presença de Deus, também não façam disso uma produção teatral. Essa gente que faz da oração um show está buscando o estrelato! Vocês acham que Deus está no camarote, apreciando o espetáculo?
É assim que eu quero que vocês façam: encontrem um local tranquilo e isolado, de modo que não sejam tentados a interpretar diante de Deus. Apenas fiquem lá, tão simples e honestamente quanto conseguirem. Desse modo, o centro da atenção será Deus, não vocês, e vocês começarão a perceber sua graça.
O mundo está cheio de pessoas que se julgam guerreiros de oração, mas que nem sabem o que é orar. Utilizam-se de fórmulas, programas, conselhos e técnicas de vendas para conseguir o que querem de Deus. Não façam essa asneira. Vocês estão diante do Pai! E ele sabe de que estão precisando, melhor que vocês mesmos. Com um Deus assim, que os ama tanto, vocês podem orar de maneira muito simples.[iv]


Oração sem vãs repetições
E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. (Mateus 6.8)

Outra lição que podemos extrair da oração modelo ensinada por Cristo, é o fato de que as nossas orações não podem ser recheadas de expressões vazias e/ou vãs repetições. É sabido que as “repetições” deixam as orações mais alongadas, entretanto, engana-se quem pensa que a eficácia da oração depende de quão longa ela é. Uma oração correta e eficaz independe da noção matemática e cronológica. Vãs repetições significam na verdade o uso mecânico e programado das palavras.
Certamente, o pregador em Eclesiásticas compreendia muito bem este ponto do ensino de Cristo, por isso, ele ponderou: “Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras”. (Eclesiastes 5.2)
            Kenneth Bailey nos chama a atenção para o intrigante fato de que, as orações de Jesus registradas nos Evangelhos são bem curtas, todavia, os mesmos evangelhos apontam que às vezes, ele orava a noite toda. Sobre isso, ele deixa subtendido e comprovado por testemunhos dos pais da igreja que “para Jesus a oração abrangia longos períodos de comunhão silenciosa e cheia do Espírito com Deus que transcendia a necessidade de Palavras” [v].




[i] LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor. Hagnos. São Paulo. 2008. Pág. 73.
[ii] BAILEY, Kenneth E. Jesus pela ótica do Oriente Médio. Vida Nova. São Paulo. 2016. Pág. 96.
[iii] Ibdem.
[iv] PETERSON, Eugene. Bíblia A Mensagem. Editora Vida. São Paulo. 2011. Pág. 1384
[v] BAILEY, Kenneth E. Jesus pela ótica do Oriente Médio. Vida Nova. São Paulo. 2016. Pág. 94