11 de agosto de 2010

Se eu fosse mudo!


Um dia desses, refletindo sobre a vida cristã, me flagrei pensando em, como seria bom se eu fosse mudo. Sim, seria muito bom, já que se assim fosse, não me meteria em tantas complicações por abrir a boca com tanta ansiedade em, “protestar e defender”.

Falar é bom e massageia o ego. As palavras revelam quem somos e o que queremos. Através delas, levamos um povo à polvorosa ou atenuamos os ânimos mais elevados.

As palavras e o seu poder persuasivo, nos dão condições de conquistar nações e levar multidões ao delírio. Enfim, através de nossas palavras podemos bendizer a Deus e Pai, e também com ela amaldiçoarmos os homens, feitos a sua imagem e semelhança (Tg 3.9). Quisera eu guardar as palavras e proibi-las de sair da minha boca, assim eu conservaria a minha alma e não sofreria mais com perturbações (Pv 13.3).

Mas, excepcionalmente, como disse o apóstolo Tiago, “... se eu conseguisse refrear a minha língua, seria um homem perfeito e poderoso para dominar ou conter todo o meu corpo”.

Por estas e outras coisas, eu suspiro e digo “Se eu fosse mudo!” Ah se eu fosse mudo.

Se eu fosse mudo não precisaria ficar tentando conter esse fogo dentro de mim que não permite que eu fique calado diante de tanto escândalo que vem aparecendo em nosso meio evangélico.

Um verdadeiro servo de Deus não pode ficar calado como mudo diante de tanta falsidade e hipocrisia vivida por muitos dos nossos que se dizem cristãos e não o são.

Mas às vezes desejamos ficar calados, pois assim não enfrentaríamos tantos problemas por falarmos.

Se eu fosse mudo eu não precisaria falar da santidade camuflada de pregadores, pastores e cantores, que apenas querem engordar seus bolsos. Contra os tais eu abro a minha boca e os denuncio como homens e mulheres amantes do seu próprio ventre.

Se eu fosse mudo não precisaria ensinar e pregar como um arauto alertando o rebanho do Senhor sobre os lobos devoradores que estão nos arredores de forma insaciável, tentando tosquiar as ovelhas do Senhor Jesus.

Se eu fosse mudo não precisaria bradar contra estes levianos que se dizendo pastores conselheiros, mas que na verdade andam buscando identificar as fragilidades emocionais de muitas mulheres piedosas, para assim, se aproveitarem e através do engano levarem algumas de nossas irmãs à ruína.

Se eu fosse mudo não precisaria falar contra alguns líderes que, se aproveitando da fama entre o povo evangélico, envolvem-se na política e se tornam amantes da mentira, fazendo promessas e mais promessa nas igrejas por onde andam. A esses que andam fazendo assim eu os chamo de “filhos do diabo e concubinos da luxúria”, homens soberbos que buscam satisfazer os seus próprios desejos e paixões.

Se eu fosse mudo não precisaria denunciar alguns fingidos ministérios evangélicos que, para se projetarem, buscam os meios mais grotescos e cômicos; sim; cômicos porque se tornam sinônimos de piada para a sociedade secular.

Se eu fosse mudo não precisaria pregar exortando ao povo de Deus a não saírem em busca dos amuletos e bugigangas evangélicos que, são anunciados por estes caixeiros ambulantes cheios de parolas trazendo promessas de alívio, cura, proteção e libertação.

Se eu fosse mudo, não precisaria gritar contra estes enganadores que burlam e embaçam a palavra de Deus com vãs sutilezas. Estes são filhos do diabo, disseminadores de doutrinas de demônios.

Estes me estimulam, pois tal qual indefeso trabalhador, tenho que fazer ecoar o meu grito todos os dias, e dizer que, Cristo, o seu poderoso nome, o seu sangue, o seu sacrifício e a sua graça abundante nos bastam. Logo, não precisamos mais viver debaixo de rudimentos do passado.

Não precisamos mais viver com medo do que pode nos fazer o homem ou o diabo. Por fim, como diz as Escrituras, já fomos ressuscitados com Cristo. Não devemos ficar pensando nestas imperfeições terrenas, e sim nas perfeições do céu, pois é de lá que vem a nossa salvação. Já morremos para esta terra e para os seus restos malignos. Lembremo-nos que, desde quando aceitamos a fé, nossa vida está oculta com Cristo em Deus.

Se eu fosse mudo não deveria ficar falando com tanta insistência e veemência contra o pecado e o mundanismo, contra as obras da carne e as solicitudes da vida que insistem em abafar a fé e a esperança dos santos de Deus. Mas infelizmente, por mais que falemos, exortemos ou ensinemos com amor e zelo de um pastor, muitas ovelhas ainda se enveredam pelos caminhos e vales escuros deste mundo tenebroso.

Talvez alguns de nós, seríamos mais felizes se fossemos mudos. Sim, talvez nos sentissem menos culpados por alguma ovelha que se perde e, não passaríamos por noites em claro a nos questionar dizendo, “Em que eu errei no ensino? Qual foi o conselho que deixei escapar? Em que eu fui omisso para perder esta ovelha? No amor, no zelo, na disciplina, no trato? E depois de muitas argüições; por fim, dormimos decepcionados e tristes, sabendo que um dia, seremos cobrados pelo Senhor”.

Se eu fosse mudo não estaria em dívida com o Senhor, pois não precisaria me preocupar com os reclames de Paulo ecoando dia e noite aos meus ouvidos dizendo:

“Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tú, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”. (2Timóteo 4.2).

É..., se eu fosse mudo...! Contudo não o sou, posso falar, e como pastor e pregador, por mais que tente ficar calado e, como Jeremias digo: Não me lembrarei dele e não falarei mais no seu nome (Jr 20.9), não consigo me conter, pois a palavra de Deus está na minha boca e no meu coração.

Tenho que reclamar, repre-ender e exortar contra o pecado que tão de perto nos persegue. Tenho que falar... por mais que tenha o desejo de me calar... Ocultar-me... Esconder-me... Encobrir-me e tentar fugir das minhas palavras e do som das palavras do meu coração. Contudo não posso! Resta-me apenas o desejar e suspirar dizendo:

“Ah... se eu fosse mudo”. Se eu fosse mudo...

Extraído do meu livro: "Memórias Póstumas dos Protestantes".

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