Sei que este
texto poderá me trazer certos incômodos, principalmente porque de uns anos para
cá, o conturbado mundo “gospel”, ganhou uma nova ala: “os fã-clubes dos
artistas gospel”. Hoje, infelizmente, quem se atreve a dar a mão à palmatória,
analisando tudo sob a ótica da Sagrada Escritura é taxado por essa ala de:
intransigente, importuno e acima de tudo invejoso.
Tristemente,
os que amam a área da apologética e se prontificam na elaboração de apologias
sobre músicas, livros, preleções, etc. são maus compreendidos, censurados e até
ridicularizados, sobretudo nas redes sociais.
Confesso
que já fui escarnecido, zombado e ridicularizado em virtude de conjecturas e
convicções que elaborei no decorrer do meu ministério. Entretanto, de uns anos
para cá, corroborando com um dos poucos pastores “famosos” que ainda gosto de
ouvir, afirmo que sinto a necessidade de “bater estacas”, “descer do muro” e
assumir posições concernentes a certos assuntos e “ensinamentos” do meio
cristão.
Hoje,
um pouco mais maduro, e preparado para lidar com as criticas e o apedrejamento
de fanáticos, quero analisar dentro da perspectiva bíblica, se o homem, líder
ou não têm crédito ou débito diante de Deus.
No
final da década de 90, “estourou” no Brasil, um jovem pregador, carismático, de
gentil aspecto e um exímio contador de estórias, como ele próprio já se rotulou
várias vezes. Rapidamente, este jovem ganhou espaço, admiradores, fãs e imitadores,
e, creio que passou a ter uma das agendas mais disputadas do meio “pentecostal”.
Nesta época, estava
saindo da adolescência e apenas engatinhando no ministério, mas, pude perceber
o alvoroço que este pregador causou no meio da mocidade. Muitos começaram a
copiar suas mensagens, seus jargões e até mesmo seu modo de vestir; e
espantosamente, uma “nova febre nacional”, agora no mundo gospel, se instaurou
no Brasil.
No inicio, tenho
que admitir, também fui “tentado” a ceder diante das ministrações deste jovem. E
a exemplo de muitos, comecei a assistir todas as suas mensagens disponíveis. Entretanto,
sorrateiramente, o encantamento foi dando lugar à desconfiança, e como “cresci”,
deixando de lado as coisas de menino, perdi completamente o vislumbre pelo
mesmo.
É inegável que
suas ministrações chamavam atenção! Seus jargões “enlouqueciam” inúmeros ouvintes,
e suas “orações” pedindo a presença de “anjos” nas reuniões, despertava frisson
no coração de muitos, porém, quando ele dizia: “Senhor, se ainda tenho crédito
contigo!”...
Declaro, que
por muitas vezes, procurei enxergar com bons olhos tal declaração, aliás, certa
vez, ao comentar com um amigo, o incômodo que sentia diante dessa colocação;
ouvi do mesmo a seguinte ponderação:
- Ele ora
assim, porque paga o preço, têm uma vida irrepreensível e, sendo assim, possui
crédito com Deus!
Não,
mil vezes não, ao olharmos para as páginas sagradas, veremos que os homens não
possuem créditos para com Deus! Possuímos débitos, que a exemplo das
financeiras se multiplicam a cada manhã.
Revelo,
que toda vez que ouvia: “se ainda tenho crédito contigo!”, era remetido a
oração do fariseu que arrogantemente dizia: “Ó Deus, graças te dou, porque não
sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como
este publicano. Jejuo duas vezes na
semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo”. (Lucas 18: 11,12)
Todos
aqueles que acreditam ter crédito com Deus, assemelham-se aos fariseus que
confiavam em si mesmos, crendo que eram justos e desprezavam os outros. (Lucas
18: 9)
Todos aqueles
que acreditam ter crédito com Deus, se esqueceram de que para sermos
justificados diante dEle, precisamos reconhecer o nosso estado lastimoso e a
exemplo do publicano proferir: Ó Deus,
tem misericórdia de mim, pecador! (Lucas 18: 13)
Todos aqueles
que acreditam ter crédito com Deus, fazem “vista grossa” diante da oração de confissão
ensinada por Cristo, dizendo: “Perdoa-nos
as nossas iniquidades...”. (Mateus 6: 12)
Todos aqueles
que acreditam ter crédito com Deus, se julgam maior do que Paulo, pois, este,
mesmo possuindo tantas credenciais, cidadanias e habilidades, jamais ousou
dizer: “se ainda tenho crédito contigo!”, pelo contrário, ao escrever sua
magistral carta aos Romanos, ele declarou: Miserável
homem que eu sou! (Romanos 7: 24)
E por falar em
Paulo, todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus, devem desconhecer sua
carta a Timóteo, pois, nela, o maior de todos os apóstolos registrou: “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os
pecadores, dos quais eu sou o principal”. (1 Timóteo 1: 15)
Todos aqueles
que acreditam ter crédito com Deus, me fazem lembrar, do inicio do ministério de
Isaias, que saiu dizendo: Ai desses! Ai daquele! Mas, de repente, quando teve
uma visão do Senhor, reconheceu que também era pecador, entrementes, admitiu
que não possuía créditos e diagnosticou: “ai
de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no
meio de um povo de impuros lábios”. (Isaias 6: 5)
Todos aqueles que
acreditam ter crédito com Deus, ignoram uma das maiores verdades teológicas: Somos
justificados pela graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, e não por créditos.
(Romanos 3: 24)
Todos aqueles
que acreditam ter crédito com Deus, interpretam de maneira equivocada a ordem
dada por Paulo a Timóteo de guardar o bom depósito, pois, o mesmo nada tem a ver
com crédito para com Deus. (2 Timóteo 1: 14)
Continuando, todos
aqueles que acreditam ter crédito com Deus, são incapazes de admitir que um dos
princípios básicos e indiscutível do cristianismo, ainda está valendo: “onde o
pecado abundou, superabundou a graça”. (Romanos 5: 20)
Finalmente,
afirmo que, todos aqueles que acreditam ter crédito com Deus, podem a qualquer
momento, a exemplo de Belsazar, descobrirem que “foram pesados na balança e
achados em falta, em débito”. (Daniel 5: 27 – Adaptação do autor)
Sinceramente,
quando olho para minha vida, minha família e para o ministério outorgado a mim
por Deus, reconheço que não sou merecedor, não tenho crédito, tenho débitos,
aliás, tenho uma dívida que só não é impagável, porque, o sacrifício vicário de
Cristo, rasgou a cédula que eram contra mim, cravando-a na cruz. (Colossenses
2: 14)
Para encerrar,
atesto com toda convicção que o verdadeiro chamado, jamais se gabará em ter
crédito diante de Deus, pelo contrário, a exemplo de Gideão, Jeremias, Moisés e
Paulo, o mesmo reconhecerá: impotência, incapacidade e inexperiência.
Não tenho
crédito! Tenho débito! Mas, alegro-me em saber que as misericórdias do Senhor,
se renovam a cada manhã sobre mim, e são elas as causa de eu não ser consumido.
(Lamentações 3:22 e 23)
Que
a Graça do Senhor superabunde em nossas vidas!
Por Sylas de Souza Neves – 20/10/2012