12 de maio de 2010

O que penso sobre uma nova REFORMA protestante (parte 1)


Há algum tempo atrás, recebi das mãos do jovem Márcio Angelim (estudante de teologia da EETEP) um questionário solicitando o meu ponto de vista sobre a Reforma Protestante e, por julgar, ser um assunto de muita relevância; com muita satisfação, emito nas próximas linhas o meu parecer sobre algumas questões propostas.

1. No que concerne a Reforma Protestante, qual era a ótica de Martinho Lutero?

Valendo-me do adágio popular: “pimenta nos olhos dos outros é refresco” quero, responder esta indagação ressaltando a importância de Lutero viver “dentro” dos bastidores do romanismo, ou seja, ele conhecia bem o lado “obscuro” do catolicismo romano.

Os melhores livros históricos e teológicos que abordam a Reforma, demonstram que Lutero estava galgando posições na Igreja Católica Romana e, ocupando-se profundamente com os seus aspectos intelectuais e funcionais; ele conhecia na pratica o jogo de interesses no qual a Igreja havia se metido e, sabia que a mesma, havia se afastado de suas origens e de ensinamentos importantíssimos, como pobreza, simplicidade e sofrimento.

Lutero, como monge agostiniano, certamente teve a sua maneira de pensar influenciada pelos escritos de Paulo, pois, afinal de contas, Agostinho era bastante Paulino e, foi à declaração do apostolo: “o justo viverá da fé” (RM 1:17) que deixou o monge agitado e inseguro. Este versículo escrito à igreja de Roma levou Lutero a repensar o “evangelho” e a chegar a uma nova fé enfatizada pela graça de Deus e a justificação pela fé.

Como examinador e amante da Palavra de Deus, Martinho Lutero, bem como os demais reformadores, defendia com finco os quatro maiores postulados da reforma: Sola Gratia, Solo Christus, Sola Fide e Sola Scriptura (Só a Graça, Só Cristo, Só a Fé e Só a Escritura) e mediante a tais postulados, ele sabia que o Romanismo dentre as muitas aberrações e ‘inovações’ apregoadas e praticadas defendia:

a) A supremacia do Papa - Segundo o cardeal Belarmino é a “súmula e a essência do Cristianismo”;

b) O Cânon da Escritura - Conforme o cardeal Barônio “depende da mera vontade e beneplácito do bispo de Roma considerar como sagrado, ou de autoridade em toda a Igreja, aquilo que muito bem lhe parecer”. Eck Euchiridion afirmou: “Assim como a Igreja evidentemente é mais antiga do que as Escrituras, assim também estas não seriam autênticas senão por autoridade daquela”;

c) A interpretação das Escrituras – A arrogância do Romanismo é tão grande que afirmaram: “Se alguém tem a interpretação da Igreja de Roma sobre qualquer texto da Escritura, ainda que não entenda como tal interpretação convém ao texto, tem, todavia, a mesma Palavra de Deus ”; e Inácio de Loyola acrescentou: “Para que em todas as coisas cheguemos ao conhecimento da verdade, a fim de não errarmos em coisa alguma, devemos ter sempre como regra fixa e invariável que aquilo que nossos olhos virem branco é realmente negro, se assim o entendem e define a igreja romana”.
Sobre a questão da interpretação o ponto de vista de Martinho era: "Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”.

d) Invocação aos Santos – Para defenderem esta prática idolatra, exclamaram: As Sagradas Escrituras não ensinam, nem sequer implicitamente, que se devam fazer orações aos santos...Portanto, é por demais claríssimo que muitas coisas que pertencem à fé católica (romana), não se encontram nas sagradas páginas ;

e) O culto ás imagens; o purgatório; a penitência; as indulgências (a galinha de ovos de ouro do romanismo avarento); a tradição (para esta, Lutero afirmou: “A tradição da igreja pode ser legitima, porém não infalível; por isso, deve ser julgada pela bíblia”); a Imaculada Conceição; etc.

Em virtude de todas estas descabidas e infundadas “inovações da Igreja romana”, Lutero, chegou à conclusão de que a igreja precisava encarar e passar por uma reforma. Esta era a ótica do reformador.

2. No presente tempo, é possível que haja uma reforma protestante? Comente.

Nos dias atuais, muito se ouve falar em uma nova ‘reforma’, todavia, devido à proliferação denominacional e sectária, creio que este ‘sonho’ se torna cada vez mais difícil de se concretizar, pois, ao contrário do século XVI, onde somente existiam duas ‘igrejas’ (ocidente e oriente), hoje, as “denominações protestantes” são inúmeras e peculiares.

O crescimento numérico denominacional, trouxe ao ‘protestantismo’ um grave problema, principalmente na área da hermenêutica: como interpretar a Bíblia, pois, mesmo ‘cientes’ de que: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação (2PE 1:20), os lideres denominacionais estão ‘adaptando’ a bel prazer a “Palavra de Deus”.

Um dos belos resultados da Reforma Protestante, foi à retirada da base hermenêutica da Igreja e a colocação da mesma na Bíblia (Sola Scriptura), em tese, até o inicio do século XVI, pensava-se que, o verdadeiro princípio hermenêutico estava na autoridade da Igreja (Roma locuta est: causa finita est. Roma falou: terminou a causa), todavia, a Reforma contribuiu para a recolocação do verdadeiro principio da hermenêutica: “a Bíblia é a melhor interprete de sim mesma”, por isso, como disse Isaltino Gomes da Silva: “Os maiores inimigos da Bíblia não são seus opositores, mas os seus expositores que tentam encontrar na Bíblia defesa para as suas idéias absurdas...”.

Falando ainda sobre interpretação, muitas das denominações a retiram da Bíblia e colocaram-na sobre o crente, e o que mais se vê e se ouve nos dias atuais, é: “O Espírito me falou", "Deus me revelou" ou “Não está no texto, mas...”, expressões populares e incoerentes teologicamente. Para se começar uma nova reforma, os protestantes deveriam primeiramente plagiar Lutero e dizer: “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir”.

Outro grave empecilho para uma nova reforma é à volta ao passado; ou seja, cada vez mais as “denominações protestantes” estão edificando suas bases ministeriais e doutrinárias no Antigo Testamento, contrariando outro importante principio reformista (Sola Gratia). Ensinamentos veterotestamentários ‘camuflados’ estão sendo propagados dias após dias em nossas ‘denominações’, aniquilando por completo o viver pela graça e introduzindo cada vez mais o legalismo e o farisaísmo em nosso meio.

Infelizmente, estamos assistindo a “volta dos levitas”, o retorno do postulado da obrigatoriedade dos dízimos (quem não paga é ladrão e se é ladrão não herdará a vida eterna – ML 3:10), até mesmo as punições impostas pela lei estão sendo novamente propagadas nos púlpitos (gafanhoto migrador, cortador, destruidor, etc); espantosamente as indulgências também voltaram (primícias obrigatórias, sal grosso, galho de arruda, unção anti-dengue, vela ungida, lasca da cruz de ‘Cristo’, água do rio ‘Jordão’, Samphoo para maus pensamentos, travesseiro de Jacó, etc...); se não bastasse tantas anomalias, agora somos ‘forçados’ a testemunhar o ‘culto’ à cebola na França, os adoradores do umbigo em Paris, a ingestão de excrementos no Brasil (até mesmo o padre Joseph Dillon, 53 anos, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (SP), ficou conhecido por dizer em entrevistas que a urina seria a “água da vida”) . Absurdamente, temos cência da Igreja da Eutanásia, dos adoradores da luz, dos seguidores da “Bíblia Branca”, etc.

Hoje, o grande empecilho, é o fato de que todos estes erros não são exclusivos de uma denominação, mas, sim de quase todas elas, por isso, creio que uma nova reforma nos moldes da anterior não passará de um lindo sonho, todavia, ainda acredito que Deus possa suscitar em nossa geração vários: Lutero, Hus, Wycliff, Tyndale, Zwingli, etc; homens dispostos a amar a Palavra acima de qualquer tradição, uso, costume e superstição; homens que possam compreender verdadeiramente os valores espirituais; homens realmente sinceros, cujo caráter é impecável e cuja conduta é admirável e imitável.

Como amante da Palavra, também sou um sonhador ‘reformista’, aspiro ver homens que prefiram morrerem inocentes a viver como culpados; que escolham perder a cabeça por causa da verdade, ao invés de ficarem no trono como Herodes, e como diz um amigo meu: homens que são capazes de irem para a guilhotina, mas não querem ser um Nero no palácio.

Ainda ‘acredito’ numa possível reforma denominacional, onde os líderes motivados pela Palavra e repletos de temor, conclamem a todos do seu ‘ministério’ a: a) voltar às origens bíblicas, b) abandonarem as torpes ganâncias, c) viverem piamente e pela fé, d) lutarem contra as concupiscências, e) excluírem os anátemas, f) colocarem à prova aqueles que dizem ser ‘apóstolos’ e não são, g) trabalharem pelo nome de Cristo incansavelmente, h) praticarem o primeiro amor, i) não negarem a fé, j) etc.

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