30 de outubro de 2015

Se eu fosse mais velho...

Gostaria de compartilhar com vocês parte de um texto que li há muitos anos atrás, e que contribuiu na época para o início da minha carreira de escritor:


Se eu fosse mais velho!

Ricardo Gondim Rodrigues

Não estou com pressa de envelhecer. Meu pai padece há anos de uma doença que lhe deixou senil e caquético. A velhice me intimida. Sei que na terceira idade não só perderei a impetuosidade típica dos jovens, como me tornarei mais vulnerável às doenças degenerativas. Mesmo assim espero pelos meus dias de ancião, porque só os velhos podem dizer coisas proibidas aos jovens. Estou ansioso para que chegue o tempo de poder dizê-las.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que desistam do sonho de galgarem a fama em nome de Deus. Contaria que já presenciei o desespero de alguns, almejando se destacarem como referenciais de sua geração para depois descerem do trem fatigados e destruídos pelo ônus da fama. Descreveria os bastidores da algumas "grandes" agências evangelísticas

e de outras para-eclesiásticas e como me enojei com a petulância de alguns evangelistas famosos. Falaria de minhas lágrimas, quando um deles afirmou que passaria por cima de qualquer pessoa desde que conseguisse estabelecer o que chamou de "reino de Deus". Incentivaria os jovens a buscarem uma vida discreta sem o glamour do mundo, que preferissem a senda do Calvário. Pediria que optassem por beber o cálice do Senhor a desejarem os loiros da glória humana.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que ambicionam subir os degraus denominacionais, que eles perigam chegar no topo sem alma. Narraria os conchavos da política eclesiástica como ridículos e fúteis. Candidamente, contaria casos de traição, logro e delação nas reuniões secretas de algumas cúpulas religiosas. Pediria para fugirem da ganância pela autoridade institucional. Ensinaria a desejarem autoridade espiritual; que não vem de negociatas, mas de uma vida piedosa e íntima com Deus.

Se eu fosse mais velho...

Diria aos mais jovens que não se iludissem com o academicismo. Eu lhes revelaria como alguns acadêmicos usam da sua erudição para se esconderem de Deus. Não teria medo de mostrar que muita bibliografia citada em rodapés, vem da uma vaidade boba. Algumas pessoas buscam se mostrar mais cultas do que na verdade são. Diria que certos eruditos são pessoas insuportáveis no contacto pessoal e que eles também padecem dos mesmos males que todos nós: intolerância, indiferença e muita; muita soberba. Contudo, eu lhes pediria para serem amigos dos livros. Pediria que lessem muito e diversificadamente; que usassem o conselho de Tiago na busca da sabedoria: "Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. A Sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura; depois pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento". (Tg 3.13,17).

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que tomassem muito cuidado para não gastarem todas as suas energias nos primeiros anos de ministério. Exortaria, ilustrando o serviço a Deus como uma maratona e que não adianta se apressar nos primeiros anos. Relataria os exemplos de tantos que se arrebentaram antes da linha de chegada. Quantos pastores destruíram suas famílias e filhos no afã de serem úteis e produtivos! Quando chegaram os anos da meia idade, já se encontravam estressados e cansados! Falaria daquele dia em que o meu semblante descaiu ao ouvir um pastor dizer que só não saía do ministério porque, já muito velho, não sabia como retornar ao mercado de trabalho. Pediria que não perdessem a oportunidade de passear com os filhos no parque, de lerem livros que não fossem úteis ao ministério, de curtirem a sua mulher e de praticarem algum esporte. Eu lhes pregaria um sermão baseado em Mateus 16.26 e explicaria que, para Jesus, perder a alma tem um sentido mais amplo do que simplesmente morrer e ir para o inferno.
Basearia minha mensagem na afirmação de que é possível, pastor ou evangelista, ganhar o mundo inteiro e acabar perdendo os afetos do cônjuge, os sentimentos dos filhos e dos amigos, a auto-estima, o sorriso, a capacidade de amar poesia e de cantar canções de ninar. Enfim, perder a alma!

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que não desejassem o espalhafato espiritual e as demonstrações exuberantes do poder carismático. Revelaria que alguns desses evangelistas americanos, que muitos acreditam super ungidos, passam a tarde na piscina do hotel em que se hospedam, antes de encenarem a sua super espiritualidade em mega eventos. Não temeria denunciar alguns que se trancam nos seus aposentos, assistindo filmes na televisão e logo depois subirem às plataformas com o ar de santos da última hora. Não hesitaria alardear, que muito daquilo que se rotula como demonstração de poder espiritual, nasce de uma mentalidade que busca levar as pessoas a uma falsa euforia religiosa.
Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que a sexualidade é terreno minado e cheio de armadilhas. Contaria tantos exemplos de ministérios que ruíram pela sensualidade. Alertaria que o grande perigo do sexo não vem da beleza, mas da solidão e do poder. Tantos pastores naufragaram em adultério porque se sentiram sós. Não possuíam amigos verdadeiros. Viviam rodeados de assessores, sem um amigo com quem pudessem abrir o coração e pedir ajuda. Incentivaria a desenvolverem amizades, preferivelmente fora de seus quintais denominacionais. Suplicaria que fizessem amigos com coragem de falar coisas duras, olhando nos olhos. Lembraria que são fiéis as feridas feitas por aquele que ama.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos mais jovens que tomassem cuidado com os modismos teológicos, ventos de doutrina e novidades eclesiásticas. Falaria das inúmeras ondas que varreram as igrejas com pretensas visitações de Deus. Vermelho de vergonha, lembraria aquele culto em que se alardeou que Deus estava trocando as obturações por ouro. As pessoas se sujeitando ao ridículo de investigarem a boca uns dos outros e depois, ao confundirem as restaurações amareladas de material de baixa qualidade, com ouro, saírem proclamando um milagre de Deus. Relataria a pobreza doutrinária daqueles que jogaram os evangélicos na paranóia da guerra espiritual. Ensinaram as mulheres a vigiarem mais durante a menstruação, porque há demônios que se alimentam daquele tipo de sangue. Imploraria que se mantivessem fiéis ao leito principal do Evangelho, à Doutrina dos Apóstolos; que não deixassem de pregar a Cruz do Calvário.

Se eu fosse mais velho...

Eu diria aos jovens para não procurarem imitar ninguém. Lamentaria a tentativa patética de alguns líderes de quererem ser clones de pastores e evangelistas de renome. Mostraria vários exemplos ridículos de igrejas que tentaram reproduzir no sofrido Brasil, o modelo de igrejas abastadas dos subúrbios americanos. Admoestaria que soubessem aceitar-se. Pediria para não ficarem procurando repetir gestos, neologismos, tom de voz e maneirismos dos outros, pois acabarão sem identidade. Eu mostraria na Bíblia que Deus não nos cobrará por não ensinarmos com a destreza de Paulo, nos portarmos com a ousadia de Pedro, ou escrevermos com o mesmo amor de João. Deus nos pedirá contas apenas por não termos vivido nossa própria identidade.

Se eu fosse mais velho...

Diria aos jovens que a obra que Deus tem para fazer em nós é muito maior que aquela que ele tem para fazer através de nós. Diria que somos preciosos como filhos e não como servos. Melancolicamente falaria que na velhice, muitos sentem saudade dos tempos que poderiam ter sido íntimos de Deus, mas acabaram chafurdados nos pântanos de sua própria vaidade. Diria que na velhice muitos choram por saberem que o tempo da partida está próximo e não escolheram a melhor parte, como fez Maria.

Eu deveria esperar para dizer essas coisas quando estivesse mais velho. Por impetuosidade acabei dizendo antes do tempo. Contudo, acredito que não me arrependerei de tê-las dito agora.

22 de outubro de 2015

CARTA DE DESLIGAMENTO DENOMINACIONAL E CONVENCIONAL

COMUNICADO OFICIAL:
Hoje, dia 22 de outubro de 2015, na presença de duas testemunhas, entreguei nas mãos do pastor presidente das Assembleias de Deus de BH / MG e nas mãos do pastor da regional de "São Bernardo", uma carta de desligamento do ministério e das convenções estadual e geral.
Sei que muitos não entenderão, entretanto, afirmo com toda a convicção que, fiz isto com total aprovação e direção do nosso Deus.
A Ele pertence minha vida e meu coração!
Rogo orações a meu favor, pois, dou inicio hoje, a uma nova etapa ministerial.

Segue, na integra, a carta:

Belo Horizonte, 20 de outubro de 2015.
À Igreja Assembleia de Deus, ministério de Belo Horizonte / MG.

Amados de Deus e eleitos pelo Senhor Jesus, a Paz do Senhor!
Sirvo-me desta para comunicar o meu desligamento da Assembleia de Deus, bem como das convenções COMADEMG e CGADB. Aproveito também para registrar a minha profunda gratidão por tudo que recebi tanto das vossas mãos, bem como das mãos do nosso Amado Deus através desta grande denominação.
Gostaria de registrar o meu sincero amor pelos irmãos desta instituição; principalmente por aqueles que me acolheram nos momentos difíceis, confiaram no meu chamado, sorriram com minhas conquistas, choraram com as minhas perdas e combateram ao meu lado o bom combate cristão. Para estes que foram companheiros de labuta e que participaram de certa forma da minha vida, atesto que, mesmo não estando junto de vós de corpo presente daqui para frente, meu espírito sempre testificará que somos FILHOS DE DEUS e ovelhas de um só pastor.
            Glorifico a Deus pela vida de cada um de vós, e mesmo ciente do risco de não ser compreendido e até mesmo caluniado; gostaria de deixar claro, (juntamente com minha família), que estamos nos desligando desta instituição, não do corpo de Cristo e, registramos que os nossos corações estarão abertos, assim como as portas de nossa casa, para qualquer um de vós que sentir alegria em compartilhar ainda conosco das coisas celestiais, pois o nosso maior desejo é que todos os irmãos sejam felizes debaixo do doce amor de Jesus Cristo, ensejando, de coração, encontrar-vos no céu para, de fato, cantarmos o hino da vitória.
            Certa vez, nosso supremo e amado mestre ensinou que: “o vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João 3.8), portanto, entre idas e vindas, passei 30 anos da minha vida nesta intuição. Nela fui apresentado, cresci, conheci e aprendi a amar minha esposa, casei, apresentei os meus filhos e desenvolvi com afinco, zelo e temor o ministério a mim confiado por Deus.
Quero também registrar os meus agradecimentos a toda liderança da ADBH e COMADEMG, pois tenho convicção do quão privilegiado fui ao servir nesta igreja. Nela, fui secretário, tesoureiro de missões, coordenador local e regional de missões, professor e superintendente da EBD, diácono, presbítero, pregador itinerante e pastor, todavia, tudo tem um tempo determinado, e o meu tempo na ADBH inevitável e absolutamente acabou!
            Saio de cabeça erguida, não por ganância, vaidade ou fins financeiros. Desligo-me desta instituição porque recebi do Senhor uma grande missão. Sei dos riscos que corro e da enorme cobrança que haverá sobre mim, entretanto, tenho convicção do meu chamado e principalmente das promessas de Deus sobre a minha vida!
            Levo comigo apenas a minha família, as boas lembranças, a convicção e o desejo de continuar servindo ao Senhor com integridade; sempre ponderando nas palavras de Cristo: “de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Marcos 8.36).
À Deus seja dada toda a honra, toda glória, todo o poder, todo o louvor, toda a majestade, todo o domínio pelos séculos dos séculos!!
Fraternalmente,


Pr. Sylas Neves

CGADB: 73223