5 de dezembro de 2008

Livrai-nos da segunda divisão ou livrai-nos da superstição?

(Sylas de Souza Neves) em 05/12/2008

Quem nunca ouviu em nosso país a exclamação de que Deus é brasileiro! Pois é, este brado pode ser ouvido em quase todos os ‘quatro’ cantos da ‘pátria amada Brasil’, desde as mesas de bares até as mesas parlamentares. Embora ‘repleta’ de humor, este clamor revela entre outras coisas, a religiosidade do povo brasileiro. Sem sombras de dúvidas ‘somos’ religiosos e, segundo fontes fidedignas “98% dos brasileiros acreditam em Deus ou pelo menos admitem sua existência[1]”.

Muitas vezes, nossos ‘conterrâneos’ desenvolvem a sua religiosidade de maneira mística e porque não dizer ‘curiosa’ e, infelizmente, tais coisas, são facilmente notadas até mesmo dentro de muitas igrejas ‘evangélicas’. É lamentável ver um “cristão” depositar a fé em: galhos de arruda, trevo de quatro folhas, ferraduras na porta de casa, copos com água em cima do rádio e / ou televisão, amuletos, bíblia aberta no salmo 91, etc. As superstições levam o individuo a uma idolatria generalizada, pois, os supersticiosos tendem a acreditar em tudo, menos na palavra de Deus.

Que o brasileiro é religioso, não resta dúvida, porém, além de possuir uma vasta ‘espiritualidade’, nosso povo, ou melhor, uma grande parte dele é apaixonada pelo futebol. Nos orgulhamos de ter o ‘melhor’ futebol do mundo, a única seleção pentacampeã, os melhores craques da história (Garrincha, Pelé, Reinaldo, Zico, Tostão, etc), dentre outras coisas. O futebol é algo ‘apaixonante’ e nivelador, pois, nele estão inseridos: ricos, pobres, pretos, brancos, homens, mulheres, etc.

Como brasileiro, desde pequeno aprendi a gostar do futebol e, ainda criança me ‘encantei’ com a torcida do Atlético Mineiro: – sofredora, mas sonhadora, idealista e fiel. Quando adolescente, fugi de um evangelismo de domingo à tarde, e fui parar no ‘caldeirão’ alvinegro, quando me dei por conta, estava totalmente ‘idolatrado’ pelo Galo das Minas Gerais; comprei camisas, bandeiras, bonés, pôsteres, shorts, cd’s, etc, e sempre gravava em fitas k7, os gols do Galo narrados pela excepcional voz do locutor: Willy Fritz Gonser da rádio Itatiaia.

Devido à imensa ‘paixão’ que tinha pelo Atlético, passei cerca 7 anos no curso de pré-batismo e não me batizei, pois, me sentia indigno de participar da Santa Ceia do Senhor, procurei primeiro me despojar do velho homem, corrompido pela concupiscência do engano, e somente depois de ‘colocar’ Jesus em primeiro lugar é que desci às águas batismais, e dei fim aquele monte de amuletos que carregava como torcedor.

Hoje, uma década depois, ainda gosto de ver o Atlético jogar (se é que ele não faz isto há muito tempo), todavia, não deixo as coisas de Deus por causa de um jogo, não fico triste e nem nervoso por causa de uma derrota; graças a Deus as coisas velhas passaram e tudo se fez novo.

No ano de 2004, o Clube Atlético Mineiro escapou de cair para a 2ª divisão do brasileiro na ultima rodada do campeonato, e este fato, além de ter gerado na ‘massa’ um grande alivio, deu origem ao livro intitulado: Livrai-nos da 2ª divisão do Pr. Toninho Campos (Vide Imagem), livreto que trás na capa os seguintes disseres: “Como a ação de Deus impediu a maior tragédia dos 96 anos de história do Clube Atlético Mineiro”.

Como amante da Palavra, apologeta da fé cristã e apreciador de obras literárias, logo me interessei por esse livro, e quando passei a fazer a leitura do mesmo, fiquei estarrecido com algumas colocações do autor e verifiquei a superficialidade bíblica da ‘obra’ e a paixão exagerada de seu autor por um simples time de futebol. Mediante a isto, expressarei nas próximas linhas a minha opinião sobre tais colocações que ao meu ver são erradas e sem fundamento bíblico; todavia, farei isto não com o intuito de denegrir a imagem do autor, pois, além de não conhecê-lo pessoalmente, não sou juiz e inquiridor de ninguém, além do mais, acredito que ele escreveu tal obra fazendo uso apenas do lado da paixão.

O livro começa apresentando o pr. Toninho, a data de sua conversão, como largou um bom emprego em prol da obra de Deus, os lugares onde pastoreou, sua família e onde ele pastoreia atualmente; já na página 7, no primeiro parágrafo da seção de dedicatória e agradecimentos, o autor foi feliz ao dedicar e agradecer a Jesus por seu primeiro livro, e para isto afirmou: “É digno de toda glória e que nos salvou do “rebaixamento eterno” com seu sangue derramado lá na cruz”.

Tal afirmação expressa coerência bíblica, o sábio disse em (Provérbios 15:24) – “Para o entendido, o caminho da vida leva para cima, para que se desvie do inferno em baixo”. A verdade é que, se não fora o Senhor, nós seríamos rebaixados eternamente, e este rebaixamento ao contrario do futebol brasileiro, seria irreversível, ou seja, não haveria volta à primeira divisão. Na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pode até existir ‘virada de mesa’, entretanto na CC (Confederação Celestial) quem foi ‘rebaixado’ não volta mais; exemplificando: veja as palavras de Abraão na parábola do rico e Lázaro: “E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá”. (Lucas 16:26)

Em segundo lugar, a afirmativa diz que fomos salvos do rebaixamento, mediante ao sangue de Jesus derramado na cruz, portanto, nós fomos salvos, não por um pênalti mal marcado pelo juiz, e nem tampouco por compra de resultados, malas pretas, etc; fomos salvos pelo sacrifício vicário de Cristo. Podemos dizer, aleluia! “ A nossa alma escapou, como um pássaro do laço dos passarinheiros; o laço quebrou-se, e nós escapamos”. (Salmo 124:7)

Entretanto, particularmente, além do testemunho de sua conversão e desta afirmação analisada anteriormente, não consegui extrair mais nada de bom no livro, pois o restante, somente me serviu para a elaboração deste artigo. Vejamos:

No capitulo primeiro, na página 16, ao tentar responder a pergunta: Deus se mistura com o futebol? O autor não titubeou em dizer que sim, e para se defender ele usou o texto de (Atos 27:34) que diz: “porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós”. Ora, além de tirar este texto fora do seu contexto, o autor desconhece a vontades permissiva de Deus, que mesmo sendo o controlador do universo, respeita o livre-arbítrio humano; responder a pergunta com este texto é classificar Deus como fatalista futebolístico. Será que Deus também predestinou o São Paulo para ser campeão em 2008?

Depois, para piorar ele citou o texto do capitulo 17 de João, onde Jesus pediu a Deus para que não tirasse seus discípulos do mundo, mas que os livrasse do maligno. Outra vez o autor tirou o texto do contexto para associá-lo ao futebol, esquecendo-se de que, o que leva um time de futebol a se dar bem no campeonato não é a intervenção divina, mas, a qualidade do plantel, a estrutura do clube, a capacidade do treinador, etc.

No nono capitulo, na página 46, quarto parágrafo, o pastor Antônio Brandão Campos, fez uma analogia entre o possível rebaixamento do Atlético e o naufrágio do Titanic: “Se o dono do Titanic impediu Deus de salvar a grande embarcação por ter tido que nem Deus o afundaria, com o Atlético foi diferente. Esse grande time, de uma imensa torcida, teve por seu capitão alguém que, colocado por Deus, abriu a porta para que o Evangelho fosse levado a bordo da nau e, juntos, invocamos ao Senhor, que operou um grande milagre”.

Mais uma vez ele errou em associar o Evangelho à salvação futebolística. Acredito que a explanação da Palavra de Deus pode ter produzido motivação no grupo de jogadores, agora dizer que Deus operou um grande milagre, simplesmente pelo fato deles terem ouvido o Evangelho... “Santo exagero!”.

Finalmente, no último capitulo do livro, na página 52, ao tentar responder a existência de cristãos nos demais times do campeonato e, com certeza em times que foram rebaixados, ele disse: “...a resposta desta pergunta eu não vou expor aqui de jeito nenhum, pois a guardo como um tesouro para ver o meu time, ainda muitas vezes, vencer e ser campeão...”. Como se pode notar, uma resposta vaga e descabida, de alguém que como pastor falou como torcedor. A verdade é que Deus jamais ajudaria o Atlético a fugir da segunda divisão e lançaria “Criciúma, Guarani, Vitória e Grêmio” na mesma.

Para encerrar a minha analise, transcreverei a seguir mais duas aberrações que ele escreveu, na página 53 (falando do último jogo: Atlético 3 X São Caetano 0), e estas são tão descabidas, que faço questão de nem comentar.

“O resultado do jogo foi três a zero! Um gol para o Pai, um gol para o Filho e um gol para o Espírito Santo de Deus!”.

“Para nós, o dia do jogo foi, com certeza, o dia em que o Senhor vestiu a camisa do nosso time!”

Mal sabia, o dileto pastor que Deus ia “trocar de time” e lançar já no próximo ano (2005) o Clube Atlético Mineiro na segunda divisão. (rs, rs, rs)

Obs. Ao contrário do pr. Toninho, a cada apito inicial do juiz, no lugar de orar: “Livrai-nos da Segunda Divisão! Oro: Livrai-nos Senhor da Superstição!”.

Que a graça de Deus sempre superabunde em nós!


Pr. Sylas de Souza Neves


[1] Frase extraída do livro: Respostas Evangélicas a religiosidade brasileira, editora vida Nova, São Paulo, 2004, p. 139


Bibliografia:

Campos, Antônio Brandão: Livrai-nos da segunda divisão, amém!. Editora Fé, Belo Horizonte, MG – 2005, 56p.

4 comentários:

Unknown disse...

POR FAVOR PARE DE ENVIAR SPAM. NAO SOU EVANGELICO, NAO ME INTERESSO POR ESSE ASSUNTO E NAO QUERO RECEBER MAIS EMAILS. OBRIGADO

Reinaldo Carlos da Silva disse...

Paz do Senhor;
Meu irmão "eita" meu vasco da Gama foi rebaixado, aqui está um saco com a urubuzada tirando onda conosco, mas é assim mesmo timinho tem de cair mesmo.
Diante de tantas bobagens feitas durante anos não há time que não resista uma hora destas o barco (caravela vascaina) afundaria mesmo.

Reinaldo Carlos da Silva disse...

Paz do Senhor Jesus;
Meu irmão é uma realidade essa postagem, que pena que o irmão lá tenha escrito tanto besteirou, mas vamos orar para ver se da proxima vez ele escreva algo digamos mais edificante.

Unknown disse...

Infelizmente, NÃO são todos crentes que lá no fundo SÃO realmente crente;
como diz a autoridade maior que é a palavra de DEUS: A boca fala do que o coração está cheio.
Nestes últimos dias , São muito poucos os crentes originais , com raiz, estrutura e conteúdo DIVINO.